sexta-feira, 10 de setembro de 2004

Loser

O DIREITO AO FODA-SE

"Verdadeiro tratado sobre a liberdade de expressão, este texto circulou anônimo na internet, mas seu verdadeiro dono é um antigo blogger chamado de Loser e que atendia o nome de Pedro Ivo Resend, sem dúvida o cara que me fez querer ter um blog de histórias."

Palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua.
Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.

PRA CARALHO, por exemplo. Qual expressão traduz idéia de maior quantidade do que "PRA CARALHO"? "PRA CARALHO" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática física.
A VIA-LÁCTEA TEM ESTRELAS PRA CARALHO, O SOL É QUENTE PRA CARALHO, O UNIVERSO É ANTIGO PRA CARALHO, EU GOSTO DELE PRA CARALHO, ENTENDE?

No gênero do "PRA CARALHO", mas no caso expressado a mais obsoluta negação, está o famoso e crescentemente utilizado "NEM FODENDO!".
Que "Não, não não!" o quê? Nem tampouco o nd eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" O "NEM FODENDO" é irretorquível, liquida o assunto. Te libera, com a consciência e o ego tranqüilos, para outras atividades de maior interesse em sua vida.
Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "HUGUINHO, PRESTA ATENÇÃO FILHO QUERIDO: NEM FODENDO!".
O impertinente se manca na hora e vai ao shopping se encontrar com a turma numa boa e vc fecha os olhos e volta a curtir o novo cd do Lupicínio.

Por sua vez, o "PORRA NENHUMA!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só definição de uma negação, mas tbm o justo escárnio contra descarados blefes, que hj é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional.
Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um "É PH.D. PORRA NENHUMA!", ou "ELE REDIGIU AQUELE RELATÓRIO SOZINHO PORRA NENHUMA!". O "PORRA NENHUMA!", como vc vê, nos provê sensações de incrível bem-estar interior. É como se estivéssimos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

São dessa mesma gênese os clássicos "ASPONE", "CHEPONE", "REPONE" e, mais recentemente, o "PREPONE" - PRESIDENTE DE PORRA NENHUMA.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "PUTA-QUE-PARIU!", ou seu correlato "PUTA-QUE-O-PARIU!", faladas assim, cadencialmente, sílaba por sílaba...
Diante de uma notícia irritante qualquer um "PUTA-QUE-O-PARIU!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "VAI TOMAR NO CÚ!"? E sua maravilhosa e reforçada derivação "VAI TOMAR NO OLHO DO SEU CÚ!" Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Que saber mesmo de uma coisa? VAI TOMAR NO OLHO SO SEU CÚ!" Pronto, vc retornou as rédeas de sua vida, sua auto-estima.

Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorrizo de vitória e renovado amor íntimo nos lábios. Seria tremendamente injusto, em que pesem ainda inexplicáveis e preconceituosas resistências à sua palavra-raiz, não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do PV(Portuguê Vulgar): "EMBUCETOU!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "EMBUCETOU D EVEZ!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadorea para uma situação que atingiu o grau mázimo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez preferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta, e autodefesa. Algo assim como o comentário de um vizinho para sua esposa ao sacar que, no auge da violenta briga do casal da residência ao lado, chegam de súbito a amante, o filho espúrio e o cunhado bêbado com o resultado do exame de DNA: "FECHA A PORTA, EMBUCETOU DE VEZ!"

O nível de estresse de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "FODA-SE!" que ela fala.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "FODA-SE!"? O "FODA-SE!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor.
Reorganiza as coisas.
Liberta. "NÃO QUER SAIR COMIGO? ENTÃO FODA-SE!" "VAI QUERER DECIDIR ESSA MERDA SOZINHO MESMO? ENTÃO FODA-SE!"
O direito ao "FODA-SE" deveria estar na Constituição.
Liberdade, igualdade, fraternidade e FODA-SE.

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